domingo, 27 de junho de 2010

Ser de Câncer.

Por LP, 27 de Junho de 2010.

Pensava que não ia me apaixonar, temia morrer sem saber o que é amor. Mas isso mudou quando conheci Giovanna. Surgiu então um amor puro, que ninguém sabe a força que tem. Bem, temos câncer, e nos conhecemos no leito de um hospital. Foi amor a primeira vista, nunca havia visto um olhar tão penetrante como o dela. E agradeço afinal ela todos os dias me faz superar os obstáculos que a vida nos propõe. O que mais ela temia era perder os cabelos, tinha medo de ficar feia, mas a confortava em meus braços, te dizendo como eu a amava, e recitando nosso poema mais lindo. Nunca irão entender tamanho sentimento, pela minha garota.

Certa vez pude passar um fim de semana em casa, fui para a fazenda de meus avôs, no interior, confesso que a saudade apertou em meu peito esses dias. Há um ano que estamos juntos, aqui nesse hospital, nunca havíamos ficado tanto tempo longe um do outro, e confesso, foi uma experiência assustadora, desconfortante e muito, mais muito dolorosa. Sempre nos comunicávamos por email, torpedos no celular, conferencia na internet, mas nada como estar ao seu lado sentindo seu calor.

Nunca fui um homem de me apaixonar, sempre fui rudemente frio. Nunca gostei de arte, de poesias, de filmes, de livros, e de amar. Descobri o câncer friamente, não esperava encontrar tamanho calor em um leito de hospital, que se tornou minha casa. As pessoas, Giovanna, me aquecem com suas palavras, e com a dor aprendemos a mudar, e a mudança se torna rotineira em sua vida. e eu mudei. Aprendi a amar, e conseqüentemente aprendi varias outras maneiras de se viver. E mudei meu conceito errôneo de que namorar na juventude não é perder a juventude e seus prazeres, e conhecer e saciar da juventude conjuntamente, fazendo descobertas juntos.

Bem, enquanto estava na fazenda, fazia de tudo para ficar perto dela em mente. No domingo, recebi um email dela, dizendo e lamuriando que estava muito triste, e que não queria mais me ver, e que nosso amor havia acabado. Mas como um amor pode acabar assim?

E me fez perguntas, e surgiram as dúvidas. O meu desejo era entender o que havia acontecido, pois era tanta a nossa harmonia. Foi quando decidi voltar para o hospital o quanto antes, o mais rápido possível.

Foi na manhã gelada - não por estar fazendo frio, mas gelada para quem perde alguém que realmente ama - , que tentei encontrar Giovanna, fui direto para seu quarto que ficava ao lado do meu, como nos havíamos combinado, e descobri que ela havia solicitado uma mudança de quarto, não estava mais lá. Procurar Giovanna por aquele hospital seria de tamanho trabalho, afinal ele tinha mais de 3.000 quartos, mas não desistiria, não dela.

Depois de muito andar, de muito pedir informações, e de muito sofrer, pois estava fraco demais eu a encontrei. Na porta de seu quarto a enfermaria estava a sair, fechando a porta, pedi para me deixar entrar, mas afirmando negativamente com a cabeça, não pude ir ao seu encontro. A enfermaria, vendo a minha expressão totalmente sem vida em meu semblante, me explicou o que estava por acontecer. Giovanna tivera de rapar a cabeça.

Perder os seus cabelos foi à pior e mais terrível fase que ela passara, estava aguardando isso há algum tempo, e temia muito por esse momento chegar, afinal qual a mulher que deseja ficar sem seus cabelos? Sabia, eu sabia, que isso poderia acontecer, e que sua reação seria desta forma de fato, só não imaginei que fosse tão rápido.

E o desejo de estar perto dela brotou em meu coração. Mas, havia dando ordens extremas para que não me deixassem entrar, e me encontrei em prantos, como se tivesse perdido uma vida. e percebi que minha vida era Giovanna.

Em meu quarto, tentei encontrar uma solução. E se havia, em todo esse tempo, conseguido seguir em frente, e continuar a lutar contra essa doença, foi graças ao amor que Naninha me dá sempre. Juntos somos o sorriso, a força e fé. O conforto e o todo. O abraço, o ombro e a mão estendida. Parecidamente oposto. Rimos e choramos. E sempre nos aconchegamos. Nosso amor substitue a dor, pois é infinitamente pura. E sempre que eu estou triste e desmotivado ela vira e diz para mim:

- Se você perder fé em você, eu vou dar-lhe força para sobreviver.

Ela me dá forças. No meio de tanto sofrimento, a solução surgiu. Resolvi então mandar uma rosa branca para ela, bem à moda antiga, flores! Pedi que me recebesse, pois eu estava a morrer. Foi então, que ela cedeu. Quando entrei no quarto, fechei os olhos, e quando os abri ela se escondeu, porque estava sem cabelo, foi quando eu disse:

- Eu não te amo somente fisicamente, e sim espiritualmente, pois não amamos um corpo e sim uma alma.

3 comentários:

  1. de uma suavidade...
    Oh Lai, que veludo este conto.

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  2. Lindooo! ^^
    sei que nao tem av com a postagem, mas preciso comentar: "Amei o Averróes!"

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  3. Ah o amor, que nos arrebata!
    Se não mudar não é amor. E foi assim que neste conto eu mergulhei. Ser de cancer, jamais esquecerei a doçura que foi ler cada linha deste singelo texto, trouxe me a memória sentimentos que dizem e repetem que um amor tão belo ainda existe, por ai, em nós... e ás vezes deixamos escondidos... Isto nos remete a lutar, a sem cessar não desistirmos do amor que acreditamos ser nosso. E o amor encontra beleza no interior, e mais uma vez provastes isso !

    Beijos Minha Amiga! (Já posso chamá-la assim rs)

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Pior do que uma mulher que fala o que pensa é uma mulher que escreve. (Tati Bernardi)