sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Parte VII - Amamos uma alma.

Para ler ao som de: The Script - Talk you down

No hospital Maysa foi até a sala de fisioterapia, se inicia mais uma batalha. Fez tudo o que a médica mandou, tentou fazer com que seu braço logo melhorasse. No final da seção teve a súbita vontade de conhecer a área de câncer do hospital, mas precisamente a área com crianças e adolescentes portadores de câncer. Era de se esperar tamanha emoção ao andar pelos corredores do hospital. As lembranças dos piores dias de sua vida percorriam-lhe a mente, por um momento sentiu sua mãe por perto, sentiu seu cheiro. Quando entrou na ala das crianças/adolescentes portadores de câncer a emoção tomou conta de seu coração.

Andando pela área conheceu Gabriel, um adolescente de 17 anos, perdidamente apaixonado por Giovana. Maysa conversou muito com ele, tinham coisas em comum e escutar a sua historia a fez refletir muito sobre o significado da vida. Gabriel e Giovana se conheceram dentro do hospital, há cerca de um ano, e a partir de então passaram a viverem muito próximos um do outro, puderam crescer juntos e gozar de momentos alegres naquele ambiente triste. Gabriel mostrou-se muito maduro para tão pouca idade, nunca perdera a esperança de poder sair dali com seu amor, para que assim pudessem viver tantos outros momentos de felicidade plena. Provou a Maysa que o primeiro amor a gente nunca esquece. E ainda que vivessem dentro do hospital e tivessem todos os motivos para ficarem tristes, eles conseguiam rir na maioria do tempo, procuravam sempre ajudar um ao outro. Maysa, escutando tudo, emocionou-se muito ao ouvir a história de amor deles, que era contada com muito entusiasmo.

- “Pensava que não ia me apaixonar, temia morrer sem saber o que é amor. Mas isso mudou quando conheci Giovana. Surgiu então um amor puro, que ninguém sabe a força que tem. O que mais ela temia era perder os cabelos, tinha medo de ficar feia, mas pra mim ela nunca ficaria. Certa vez pude ir visitar minha família em casa, passei um fim de semana todo no sítio de meus avôs, no interior, a saudade apertou nesses dias. Comunicávamos-nos por email, e torpedos no celular, mas nada comparável a estar perto dela. No domingo, recebi um email dela, dizendo que estava muito triste, e que não queria mais me ver. Não entendi o porquê, nunca havia acontecido isso. Decidi voltar o mais rápido possível para o hospital. E quando cheguei descobri que ela havia mudado de quarto, não estava mais ao lado do meu. A procurei pelo hospital todo e quando a encontrei entendi o que estava acontecendo. Giovana teve que raspar a cabeça. Perder o seu cabelo foi à pior fase para ela, sabia que isso poderia acontecer, e que ela não ia me querer por perto. Só não imaginei que fosse tão rápido. Desejei estar perto dela, mas ela havia pedido para não me deixarem entrar no quarto. Foi quando me perdi em prantos, e voltei para meu quarto. Se havia, em todo esse tempo, conseguido seguir em frente, e continuar a luta contra essa doença, foi graças a Giovana. Juntos somos o sorriso. O conforto e o todo. Somos o abraço, o ombro, a mão estendida e o carinho. Parecidos e opostos, rimos, gargalhamos e falamos. Fofocamos, choramos, dormimos e nos aconchegamos. Nosso amor substitui a dor, pois é puro e infinito. Resolvi então, mandar a ela uma rosa, com um cartão, pedindo para que me recebesse, e ela aceitou. Foi quando se escondeu, porque estava sem cabelo, e eu disse que não a amo somente fisicamente, e sim espiritualmente, pois não amamos um corpo e sim uma alma.”

Escutando tamanha declaração de amor, Maysa não pode conter as lagrimas, seu coração parece que sofria a cada palavra dita por Gabriel, que vivia com câncer há dois anos. Ele conheceu Giovana quando ela também teve que se internar e por mera coincidência do destino o seu quarto era ao lado do dele, o que fez com que os dias se aproximassem muito, num puro gesto de amizade, que se tornou amor. Sempre que Giovana temia morrer, Gabriel estava pronto para aconchegá-la, sempre deixando claro que a morte não o fim.

(...)

Pedro viajava nas palavras de Machado de Assis, seu escritor preferido. Tentava imaginar se algum dia iria reencontrar a menina dos olhos de ressaca, mas o que ele não sabia que era impossível Maysa sair de seus caminhos, pois ninguém altera o seu destino. Pensava nela como um fluido misterioso e energético, e um tanto charmoso. Maysa era sua Capitu, descrita em uma clássico, dispensando todas as virgulas e pontos. Era única.

2 comentários:

  1. Nossa Lais me emocionei com essa declaração de amor.
    Como o amor pode reacender uma pessoa, mesmo quando se esta a beira da morte. Lindo demais.

    Bjs & abraços!

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  2. Lindo, Laís. Um suspiro!

    Tenhas um final de semana lindo e fica com o Pai
    Beijo doce =*

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Pior do que uma mulher que fala o que pensa é uma mulher que escreve. (Tati Bernardi)